É paradoxal a situação da segunça pública no país. Desde o descontrole sobre áreas de fronteiras agrícolas e de exploração madeireira na Amazônia, da proteção de fronteiras do país quanto à invasão de terras, tráfico de drogas e contrabando, da pirataria nos portos, mar e rios da região, da segurança policial dos centros urbanos, da segurança institucional, da segurança jurídica, da segurança de comunicações, da segurança de trânsito, segurança aérea, segurança fitosanitária, da biopirataria, da evasão de divisas, minérios e pedras preciosas, enfim, a segurança tem um espectro muito maior do que se discute locolizadamente nesta ou naquela esfera de governo.
Assistimos aterrorizados todos os dias à barbáries e violência contra crianças e adolecentes, mendigos, trabalhadores e transeuntes na ida e volta do trabalho, trabalhadores escravos e a dominação do tráfico de drogas de áreas inteiras de cidades, fazendo com que a população se enclausure atrás de condomínios fechados, edifícios seguros, muros, cercas eletrificadas, câmeras de vigilância, segurança particular, isto quando a única saída não é apenas a porta de um barraco escorada por uma madeira resistente na tranca.
A criminalidade avança na internet e o refúgio de muita gente que se sentia segura na clausura deixa de ser sagrado.
O crime está sempre a um passo adiante da polícia. Assaltos a mão armada, sequestros relâmpagos, sequestros clássicos, homicídios, latrocínios, roubos e furtos que não são mais comunicados, simplesmente por conta da descrença no sistema.
Um sistema judiciário lento e caro. Inacessáivel em sua plenitude para a população de baixa renda, que é a parcela majoritária da sociedade.
O roubo e desmanche de automóveis à luz do dia chega a ser uma piada nacional.Impunidade, e principalmente, senso de que quem tem recursos e influência consegue se manter fora da punição, tornaram-se favas contadas para o cidadão.
Participação crescente de policiais envolvidos com ilícitos e a quase intimidação do poder público por quadrilhas organizadas que chegaram a paralizar mega cidades.
O que se vê é uma insegurança generalizada.
Toda sociedade moderna padece da criminalidade e não é exclusividade brasileira esta situação de progressão geométrica do crime.
O crime tem causas no social. Um cidadão com todos os seus direitos exercidos em plenitude não está na marginalidade via de regra. Os desvios de conduta estabelecem um ditado popular muito sábio: "a ocasião faz o ladrão".
Neste sentido, exemplos de corrupção nas esferas de governo não colaboram definitivamente para a construção de uma sociedade digna. Da mesma forma a desorganização policial e o sectarismo entre polícia civil e militar também não. O cumprimento constitucional do raio de ação da polícia federal não condiz com o seu efetivo. Os salários de fome pago à policiais não deixam alternativa para os mesmos a não ser exercer atividades paralelas, o que diminui a eficiência da corporação, quando não , o leva às portas da marginalidade.
Viaturas destroçadas e sem condição de passar numa mera blitz de trânsito não são bem os recursos de que deveriam dispor os policiais. Armas de calibre inferior ao da bandidagem também desconfortam os policiais que já sabemn de antemão serem mais fracos que os miliantes a serem combatidos.
Não há heroísmo que dê jeito nesta situação caótica.
Uma política integrada de segurança portanto é algo que nunca existiu de verdade neste país.
Urge a concepção de um plano diretor que contemple a formação de quadros absolutamente bem treinados, equipados e com perspectivas de carreira, que a segurança pública seja entregue a pessoas com vocação e não seja a última opção por não ter trabalho, ou mesmo, infiltração nas forças policiais, o que é muito mais grave, e não tão incomum nos dias de hoje.
Eu me lembro na minha infância e adolescência de conhecer perfeitamente os policiais da área onde residia. Eram fatalmente pais de colegas nossos que estudavam conosco. Gente como a gente, homens de meia idade, com respeito só pelo fato de serem cidadãos, de terem família , de serem homens de bem, obstinados por uma causa, maior que a sua profissão, confiáveis eu diria. Policiais jovens, só acompanhados por policiais da "antiga". Não sei porque, não me sinto seguro com o perfil dos policiais atualmente.
Essa sensação paira no ar por uma simples razão: não é uma escolha ser polícial hoje, é a última escolha, depois de professor , infelizmente.
Luis Stefano Grigolin